Valquírio Cabral Jr.*
25 de março de 2021 | 04h00
Link da matéria no Estadão: https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/lojas-de-rua-tendencia-do-varejo-no-pos-pandemia/
Tudo leva a crer que o segmento de lojas de rua sairá fortalecido após a pandemia. Como empresário multifranqueado, tenho 24 lojas, sendo 20 em shoppings e 4 lojas de rua (duas inauguradas durante a pandemia), constatei que, nos últimos meses, tanto o movimento de clientes como o resultado financeiro das unidades de rua foram mais satisfatórios que dos estabelecimentos dentro de shoppings.
E para compreender mais a fundo esse cenário, orientei recentemente minhas vendedoras a fazerem uma pesquisa informal com as clientes e compartilho aqui informações relevantes sobre o atual comportamento do consumidor.
A facilidade oferecida pelo “drive-thru” foi um dos pontos mais elogiados pelos compradores. Há um consenso de que no shopping tudo é longe e confuso, logo se perde muito tempo para retirar os produtos. Muitos também destacaram que o atendimento nas lojas de rua é mais tranquilo, sem aglomeração e o cliente tem mais tempo de avaliar com calma as opções disponíveis. Mas, uma resposta foi praticamente unânime: a população acredita que os preços dos produtos no shopping são sempre mais caros do que na rua. Como lojista, sabemos que os custos de uma loja no shopping são maiores e é preciso incluir essa despesa no preço repassado ao consumidor. E por isso, realmente, há uma tendência das lojas de rua de praticar preços melhores. As franquias nem tanto, pois dependem da política de preços adotada pela franqueadora, mas as lojas multimarcas vendem mais barato. Além disso, na loja de rua, o consumidor também pode economizar em estacionamento, às vezes estacionando na rua ou na própria loja onde o estacionamento, geralmente, é gratuito. Definitivamente, o cliente sabe que poderá economizar mais se comprar no comércio da rua e, com a inflação acelerando e o orçamento doméstico apertado, ninguém quer ou pode gastar mais do que o necessário.
Migrar dos shoppings para as calçadas também se mostrou vantajoso para os empresários. É notória a diminuição dos custos fixos, especialmente de aluguel, um valor que, geralmente, é mais difícil de negociar com os controladores dos shoppings. Neste caso, existe ainda oportunidade de ampliar o relacionamento com os clientes. A comodidade de ir a um local que frequentemente é mais próximo de sua residência, faz com que a freguesia crie vínculos mais duradouros com as lojas de rua que, muitas vezes, também é um ambiente mais amplo e permite maior circulação.
Uma pesquisa pelo Instituto Kantar, em meados de 2020, reforça que a busca por praticidade e segurança tem atraído os consumidores para os negócios de bairro. De acordo com a pesquisa, cerca de 74% dos brasileiros dizem que continuarão seguindo essa tendência mesmo com o fim da pandemia para evitar aglomerações. Esse movimento já é observado não só nos grandes centros urbanos, mas também, nas cidades médias do interior como Sorocaba e Jundiaí, onde várias regiões de compras estão distribuídas pela cidade e o crescimento dos pequenos centros comerciais, com 10 ou 20 lojas, já se tornou uma realidade dos bairros.
Por isso, se você planeja inaugurar uma loja ou pensa em expandir os negócios no varejo, o comércio de rua pode ser a melhor opção. Antes consideradas uma preferência das classes populares, hoje as lojas de rua acompanham diretamente os novos hábitos de consumo, como praticidade, segurança e custo-benefício.
*Valquírio Cabral Jr. é CEO da Valquírio Cabral Consulting